O VARADOURO
“Seis horas da manhã do dia três de fevereiro de mil
novecentos e oitenta e dois. Paranaguá. Soa o apito e a barca Guarujá parte
para mais uma rotineira viagem pelo Varadouro até Cananéia. Lá estávamos nós e
mais algumas dezenas de pessoas, entre tripulação, penetras, turistas e, na
maioria, moradores das regiões ribeirinhas que usam a barca como único meio de transporte.
Aproveitei a viagem para documentar fotograficamente
alguns aspectos que achei interessante, que me chamaram atenção. Em cada parada
o novo se fazia presente: clic. O passatempo na barca: clic. Uns dormindo,
outros jogando: clic. Seu João Xavier o mestre-arrais, o cozinheiro: clic.
Guaraqueçaba, Itibicanga, Canubal, Vila Fátima, Varadouro, Ariri, Ararapira,
Marujá: clic, clic...clic. Uma viagem deslumbrante, onde procurei documentar o
mundo dos detalhes no interior da barca, como também a força da natureza por
onde deslisava. E sem perceber, após dez horas de viagem estávamos finalmente
chegando em Cananéia.
Nesta exposição, espero mostrar um pouco da vida do
Varadouro. Um pouco da barca Guarujá. Que navega pelo Varadouro. Um pouco dos
seus necessitados passageiros. E da marginalizada população que atravessa o
mangue de calças arregaçadas com o sapato na mão para pegar a barca e ir até a
cidade. Um pouco do sonho dos nossos primeiros povoadores. Um pouco da nossa
terra. Um pouco de tudo.”
Eduardo Nascimento / março de 1982
(texto do catálogo da exposição de fotografias
Varadouro, realizada na Casa Romário Martins da Fundação Cultural de Curitiba
no período de 15 de abril a 08 de maio de 1982)
...o Varadouro é comunicação obrigatória para as populações
ribeirinhas marginais ao canal e às baías que compõem o grande alagado de
Paranaguá e sua totalidade. Região pouco conhecida por paranaenses e paulistas,
ela merecia atenção governamental que produzisse possibilidade de conforto e
melhora, ordem, saúde, desenvolvimento e progresso.
David Carneiro / março de 1982
(parte do texto extraído do catálogo da exposição)